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Ação Direta, de Rob Sparrow

Via Existe Política Além do Voto

A característica da ação direta é que ela busca chegar aos nossos objetivos por meio de nossas próprias atividades, ao invés de tentar isso por meio da ação de outros. A ação direta busca exercer o poder diretamente sobre os assuntos e as situações que nos dizem respeito. Dessa maneira, ela diz respeito à tomada do poder pelas próprias pessoas.

Nisso, ela se diferencia da maior parte de outras formas de ação política como as votações, os lobbies, as tentativas de se exercer pressão política com ações industriais ou midiáticas. Todas essas atividades buscam outras pessoas para alcançar nossos objetivos. Tais formas de ação funcionam com base na aceitação tácita de nossa própria fraqueza. Elas reconhecem que não temos nem o direito e nem o poder de influenciar a transformação. Tais formas de ação são, portanto, implicitamente conservadoras. Elas reconhecem a autoridade das instituições existentes e trabalham para evitar que atuemos, por nossa conta, para transformar o status-quo.
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Sobre a indecisão dos movimentos de ocupação (Artigo)

Queremos uma política que desfaça a ilusão do menor dos males, que não acredite que o seu modus operandi esteja enclausurado na escolha entre alternativas igualmente insuficientes para dar conta de seu objeto. Não que acreditemos que a estratégia do ‘menor dos males’ deva ser completamente abolida; reconhecemos a sua necessidade. Porém, a reconhecemos enquanto uma necessidade circunstancial. O que significa, em outras palavras, que embora reconheçamos a necessidade de nos valermos dela em determinados momentos, jamais aceitaríamos nos contentar com ela. Ainda que essa estratégia seja necessária à política, ela não deve se pautar por ela. Se em alguns momentos uma escolha do menor dos males é necessária, acreditamos, porém, que essa escolha pode ser superada – por isso ela é sempre circunstancial, e nunca um impedimento absoluto de que não se tenha que escolher entre opções igualmente insatisfatórias, de que se possa realizar o que ambas são capazes de realizar e também aquilo que falta a cada uma delas.

 

Leia na íntegra aqui: http://opassodosim.wordpress.com/2011/11/14/sobre-os-movimentos-de-ocupacao-por-todo-o-mundo-e-sua-indecisao/

"O transbordo do copo de cólera" [Entrevista Michael Löwy]

Em última análise, o objeto de indignação é o poder exorbitante do capital mostrando a sua irracionalidade e desumanidade. Muitas vezes, isso é formulado explicitamente nesses termos. Outras, não. Mas a questão está subjacente em todos os protestos recentes. Nós, sociólogos, precisamos tentar entender por que isso não começou mais cedo. Porque as razões para a indignação já existiam. Pelo jeito, foi necessário uma acumulação de descontentamento e um sentimento de que não é mais possível tolerar tal situação.

Leia a íntegra: http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,o-transbordo-do-copo-de-colera,798151,0.htm

Relato de um acampado

I o impossível é possível

“O que vocês querem?” tem sido a pergunta mais repetida às pessoas que decidiram acampar sob o viaduto do Chá, desde 15 de outubro. Essa pergunta tem sua razão de ser em um mundo no qual manifestações e atos políticos têm objetivos claros e são endossados por uma massa coesa, com pensamentos bem formados acerca do tema e cujas idéias já todas foram anteriormente discutidas, geralmente por uma categoria de pessoas bem informadas, bastando para tais grupos a luta, ou a divulgação, de tais ideais. Desde 15 de outubro, o que vem acontecendo neste grupo de pessoas é o contrário. Existem algumas pautas, mas de maneira alguma o movimento se resume a elas. O que se pode afirmar com segurança é que se trata de pessoas descontentes com o modo atual de vida; indignados que foram às ruas, ao espaço público, e que demandam uma outra economia, uma outra política, uma outra sociabilidade.

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A “geração Seattle” e a “geração de acampantes”

Escrito por Manolo, publicado no Passa Palavra
http://passapalavra.info/?p=48007
A análise do passado e do presente é imprescindível, e tem como objetivo
não apenas saber do futuro, mas sabê-lo para, conhecendo suas
tendências, agir imediatamente para que o indesejável não venha. Por Manolo

"Com muita frequência, entre um período histórico e outro dez anos podem
decerto ser tempo suficiente para revelar as contradições de um século
inteiro. Portanto, às vezes temos que compreender que nossos
julgamentos, nossa interpretação e mesmo nossas esperanças podem ter
sido completamente equivocadas – equivocadas, e só."
Marlon Brando, na pele do economic hitman inglês Willam Walker, no filme
Queimada!, de Gillo Pontecorvo (1969)

Com o recente movimento dos acampamentos, muitos da assim chamada
“geração Seattle” voltaram não apenas a manifestar-se publicamente em
defesa das mobilizações, mas a sentir-se novamente em casa nas ruas
junto com outros mais novos que constroem espaços de militância nas
praças e espaços públicos de todo o mundo.

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Artigo – John Holloway

Esta marcha está desafiando o domínio do dinheiro

Estes são dias de ira. Ira no mundo árabe, é claro, mas também nas ruas de Atenas, Dublin, Roma, Paris, Madri, e agora uma alta e clamorosa ira nas ruas de Londres.

Uma era de crise é uma era de esperanças frustradas, de vida frustrada. Queremos ir à universidade, mas é muito caro. Precisamos de cuidados médicos de qualidade, mas não podemos pagar por eles. Precisamos de casas e vemos casas que estão vazias, mas elas não são para nós. Ou, para as milhões de pessoas famintas: queremos comer, vemos que há muita comida para todos, mas há algo entre nós e a comida — dinheiro, ou a falta dele.

Então nos iramos. Ficamos ainda mais irados pelo fato de não sabermos o que fazer com nossa ira, e como usa-la para fazer um mundo diferente.

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Coluna Do Leitor – Sobre A Ocupação Do Anhangabaú

Em 15 de outubro de 2011, atendendo ao chamado global de mobilização puxado por indignados de todo o mundo, me uni ao que na época era um pequeno grupo que ocupou o vale do Anhangabaú em São Paulo, mais precisamente a área em baixo do viaduto do chá. Estamos acampados a mais de 10 dias e não somos mais tão poucos. Somos muitos e muito plurais. Somos punks, índios, anons, moradores de rua, estudantes, trabalhadores, professores, permacultores e muito mais do que isso.

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Nosso movimento tem sido visto com certa desconfiança, pois não nos enquadramos direito em antigos padrões da esquerda. Tal desconfiança se traduz na nossa proposital dificuldade em responder certas perguntas como: “por que nos unimos?”, “por que aqui e agora?” e “aonde pretendemos chegar?”. Neste texto não pretendo responder a tais perguntas, mas arriscar uma explicação de porque temos tanta dificuldade em respondê-las.

Não custa mais uma vez repetir que este texto corresponde à minha visão como alguém que vivenciou a acampada, conversou e aprendeu com diversos outros tantos acampados por mais de uma semana, mas que de maneira nenhuma pretende representar a opinião destes.

Nosso movimento é bastante plural e, apesar de termos um manifesto consensuado, nossas pautas são muito amplas e difusas para servir de explicação sobre os principais motivos de porque nos unimos. Isso é muitas vezes colocado em forma de crítica: como um movimento pode sobreviver se não tem pautas firmes comuns? Ao meu ver o motivo real que nos une nos fornece uma excelente pista para responder a essa pergunta.

Compreendo que o que nos une, não só nós em São Paulo, mas também no movimento em Wall street, em Madri e em diversos outros pelo mundo, é uma insatisfação com a estrutura da representação política. Assim, me parece que nossa dificuldade em elaborar reivindicações claras é consistente com nossa principal bandeira “democracia real/direta”. Não estamos firmes em nossas reivindicações porque no fundo sabemos que não é uma questão de reivindicar (pra quem reivindicamos se esses não nos representam?), mas de construir todo um novo sistema. Dessa forma, é muito mais consistente que nossas pautas sejam construídas e reconstruídas constante e coletivamente. Isso não significa, porém, que não estamos firmes em certos princípios. Nos enxergamos claramente como um grupo anti-capitalista, apartidário, não-violento, cujas decisões são tomadas de forma dialógica por consenso e que busca a democracia real/direta.

A segunda pergunta também costuma chegar em tom de crítica: não há crise no Brasil agora, logo não há contexto e, portanto, o movimento não deverá durar. Primeiro, não é verdade que não há contexto, o movimento se insere tanto em um contexto internacional de lutas (Espanha, Grécia, Egito, Nova Iorque etc.) como em um contexto local (diversas marchas contra o aumento da tarifa de ônibus, marcha da maconha, marcha da liberdade etc.). Em relação a não estarmos em crise, compreendo que isso é mais uma benção do que uma maldição. A maioria dos movimentos de esquerda até hoje tenderam a ser reativos, ou seja, uma resposta a algum tipo de crise. O fato de nosso movimento não ser reativo, mas construtivo, o abre para uma infinidade de novas possibilidades. Um movimento construtivo não precisa ter pressa para dar respostas. Um movimento construtivo não é necessariamente pautado por um determinado contexto que uma vez mudado dita o fim do movimento. Um movimento construtivo é livre para seguir seu próprio rumo em seu próprio tempo. “Ele não tem limites, não começou aqui e agora e vai terminar ali e mais tarde. É exatamente o que não se constitui nem tem contornos e, assim, incomoda e agride o poder constituído. Ele não tem um dentro, um o que somos e o que queremos. O movimento já está fora, já nasceu como um fora. Ele é a própria membrana entre dentro e fora.”

Algumas vezes somos confundidos com movimentos direitistas contra a corrupção. Evidentemente que somos contra corrupção, mas esse tema nem surge em nossos manifestos ou meios de divulgação. Quando gritamos “Não nos representam!” não é que um ou outro político não nos representa, mas que o sistema político não é capaz de nos representar. Soma-se a isso a compreensão de que a corrupção é inerente ao sistema capitalista, ela é apenas uma face do capitalismo mais frequente em países periféricos. Dessa forma, a luta contra a corrupção entra somente como efeito colateral daquilo pelo que lutamos.

De forma alguma acredito que buscamos solucionar questões pontuais do capitalismo. Muito pelo contrário. Brandamos por democracia direta/real. Nossa concepção de democracia direta, apesar de difusa, certamente não é reformista. Buscamos uma mudança profunda na forma de representação política e temos consciência de que isso é impossível dentro do sistema vigente. Neste sentido, compreendo tal movimento construtivo como muito mais radical do que qualquer movimento pautado em determinada crise pontual.

Por fim, não acredito que precisamos ter um objetivo fixo, pois este está sendo construído no próprio movimento. Esse é um excelente indício de que estamos indo na direção do que quer que compreendemos por democracia real. A partir do momento em que nos tornarmos previsíveis seremos presas fáceis frente ao sistema.

Há quem diga que somos lunáticos lutando contra tudo e contra todos. Acho mais honesto dizer que lutamos contra tudo e, se não com todos, com 99%. Estamos decretando o fim do fim da história. Estamos fabricando tinta vermelha.

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Marcio Moretto Ribeiro (@marciomoretto) é doutor em ciências da computação pela USP, pós-doutorando em lógica pela Unicamp e indigesto por parentesco. Esteve acampado durante os últimos dias no Vale do Anhangabaú (@AcampaSampa) e compartilha aqui suas primeiras considerações.

Publicado em: http://www.misturaindigesta.com.br/2011/10/coluna-do-leitor-sobre-ocupacao-do.html