Replicamos aqui a nota pública dos alunos de história da UFAL.
Em solidariedade,
Ocupa Sampa.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS
CENTRO ACADÊMICO DE HISTÓRIA
Maceió, outubro de 2011
NOTA PÚBLICA:
Aluno de História da UFAL marcado para morrer:
É com profunda indignação, tristeza e certeza da necessidade de transformação radical da sociedade, que vimos tornar público mais um exemplo do papel que cumpre o Estado democrático de direito e sua devida roupagem coronelista que se mostra em estados como o de Alagoas.
Infelizmente, o caso em questão envolve um estudante do curso de História da UFAL e, portanto, membro do CAHIS. Wilson de Magalhães é aluno de licenciatura em história, já cursou direito e há nove anos é policial civil. Além de ter participado do movimento estudantil na época em que fazia o curso de direito e atualmente, apoiar as lutas travadas pelo ME de História, ele também atua nas reivindicações sindicais de sua categoria enquanto policial civil.
Wilson está sendo ameaçado após denunciar um esquema de torturas, falsificação de provas e prisões ilegais contra inocentes dentro da casa de custódia I de Maceió, exclusiva para detenção de policiais civis. Tais denúncias envolvem grandes nomes da cúpula da segurança pública de Alagoas, poder judiciário e a própria polícia civil, conforme detalhes em documentos anexados.
Este caso não é uma exceção a regra em Alagoas. Aqui, esta é a regra. Inúmeros casos de crimes e assassinatos de mando, em sua maioria executados para silenciar aqueles que não entram no jogo de corrupção disseminado pelos tentáculos da máquina estatal. Em nosso estado, nem a maquiagem de neutralidade que a ideologia dominante costuma pintar os poderes públicos é colocada em prática. Toda a podridão das contradições sociais do capitalismo são externadas numa violência típica dos tempos da época coronelista.
Se no Brasil, 10% da população mais rica detêm 75,4% de todas as riquezas (dados do IPEA), em Alagoas esta realidade se apresenta de forma mais aguda: além da riqueza produzida, as três principais empresas de comunicação e a maioria dos cargos públicos do judiciário, executivo e legislativo são propriedades restritas a 12 (doze) famílias.
Para a manutenção desta “ordem”, toda a máquina do estado se fez e se faz necessária; quer sejam através das medidas mais gerais execradas pelo judiciário, legislativo e/ou executivo; quer sejam pelas medidas mais imediatas, como a execução e extermínio daqueles que “falam demais”, sobre coisas que “não se pode falar”. Aqueles que se colocaram – de uma forma ou de outra – contra este status quo alagoano ou morreram e viraram “estatísticas”, ou tiveram que fugir do estado.
Esta nota se faz necessária no sentido de estarmos divulgando o que está acontecendo neste exato momento de sua publicação, pois – conforme não poderia ser diferente – a mídia não toca no assunto. Ou seja, para a massa dos Alagoanos e sociedade brasileira em geral nada esta acontecendo, afinal, a ditadura militar — afirmam cotidianamente os “grandes” jornais – acabou há duas décadas e hoje o país é um exemplo para o resto do mundo.
Dentro dos nossos limites, nos colocamos em solidariedade ao nosso companheiro Wilson e sua família e iremos fazer tudo que estiver ao nosso alcance para que o caso não se torne mais um em Alagoas, a exemplo do professor de História Paulo Bandeira que, após denunciar desvios de verba na prefeitura de Satuba teve seu corpo amarrado e ateado fogo até a morte.
Sabemos dos riscos que estamos assumindo ao publicarmos este caso, mas enquanto estudantes de História seria uma contradição vergonhosa e covarde ficarmos calados diante desta brutal contradição da sociedade de classes em Alagoas.