Aconteceu durante os dias 13 a 17 de junho o Xingu+23 – o Encontro dos Povos da Amazônia – que contou com a participação de comunidades indígenas e quilombolas, ribeirinhos e ativistas de diversos lugares do Brasil e do mundo. Muitas ideias, práticas e opiniões foram compartilhadas a respeito dos reflexos da Usina de Belo Monte na vida de todos, assim como estratégias foram discutidas a fim de parar a construção desta usina.
Um destes grupos era o dos guerreiros mundurukus, oriundos do rio Tapajós, que mesmo não sendo atingidos diretamente pela construção da Usina de Belo Monte, caminharam dois dias e uma noite para participar do encontro, se solidarizando com a causa que é comum a muitas comunidades indígenas, e demonstrando assim toda sua indignação para com a maneira como a natureza, especialmente os rios, têm sido ostensivamente mercantilizados. Enquanto isso seis hidrelétricas estão sendo planejadas no Rio Tapajós, o que talvez explique a intensidade de suas ações.
O que nós podemos aprender com isso? Tal demonstração de força nos leva a crer na necessidade de apoio mútuo – de uma mobilização maior; a ausência de diálogo, reflexo da infinidade de labirintos burocráticos que caracterizam nosso sistema de organização social desempoderando-nos, mina o poder de influência sobre as decisões políticas que afetam nossas vidas; a presença e ação dos Mundurukus, revela-nos a interdependência de uma luta que não é somente das comunidades afetadas, mas sim de todos nós – a Usina de Belo Monte e a Usina de Tapajós não são processos isolados, mas sim sintomas de uma política de desenvolvimento que nos mantém no papel de colonizados, exportando energia bruta; a urgência de tais ações nos tira do imobilismo e mostra a necessidade de atitudes mais contundentes. Belo Monte já é um problema real e Altamira é um reflexo disto.
Inspirados por toda esta força, ocupamos a praça da Trindade. Nós, membros dos Ocupas Belém, Sampa e São Luís, com muita indignação, retomamos o espaço público a fim de se contrapor não só à posição do Brasil na atual economia globalizada, mas também a própria lógica do capitalismo global. Entendemos que a prática de construção de barragens nos rios da Amazônia não é do interesse da população, mas sim das empreiteiras, dos políticos bancados por elas e dos grandes produtores de capital interessados na produção de energia barata, que desconsideram, ao contrário do que nos dizem, os custos socioambientais. Sabemos que é necessária a integração de esforços de todos para isso – saudamos e nos inspiramos pela iniciativa da Ocupa dos Povos, no Rio, que também busca ser um ponto de questionamento conjunto.
Quem se preocupa ocupa! Esta praça também é sua, estes rios são de todos nós. Venha compartilhar, construir, trocar experiências! Seja em praças, ruas e rios, ocupar é preciso! Do dia 19 ao dia 21, a Praça da Trindade é a Praça Xingu!