Transcrição da aula pública do Vladmir Safatle

Aula Pública n° 03 com Prof° Vladmir Safatle em 26/10/2011

“Na verdade vocês são uma peça na engrenagem que se montou de uma maneira completamente inesperada e imprevisível em várias partes do mundo. Existem certos momentos na história onde um acontecimento aparentemente localizado, regional, tem a força de mobilizar uma série de outros processos que vão ocorrendo em várias partes do mundo. Ou seja, as ideias quando elas começam a circular desconhecem espaço, não conhecem as limitações do espaço, elas constrõem um novo espaço. E de uma certa maneira, vocês aqui são uma peça de uma ideia que aos poucos vai construindo um novo espaço, através dessas mobilizações mundiais que tocam várias cidades, Nova York, Cairo, Túnis, Madri, Roma, Santiago e agora São Paulo. Gostaria de lembrar para vocês um exemplo que me parece bastante interessante, de como uma ideia pode ignorar o seu espaço original. Existe um fato histórico, muito impressionante e que nos toca de uma maneira relativamente próxima, por que diz respeito a uma coisa que hoje o Brasil esta envolvido, que é a revolução no Haiti em 1804.

Foi a primeira revolução feita por escravos, escravos que se libertaram do domínio francês. Aconteceu um fato bastante impressionante no interior dessa história que é mais ou menos o seguinte. Em 1793, a Assembléia Nacional Francesa, Assembléia Revolucionária Francesa – graças aos jacobinos – resolveu abolir a escravidão nas colônias. Era o resultado de um princípio, princípio da igualdade radical. Se nós defendemos a igualdade radical não é possível que a igualdade valha apenas nesse país e não valha em outro lugar, ela deve ser incondicional, deve desconhecer espaço e deve desconhecer tempo, então ela vale tambám para as colônias. Quando Napoleão assume o poder, tenta rever esse decreto, ou seja, fazer com que a escravidão voltasse a operar nas colônias. Os haitianos se sublevam, e Napoleão manda tropas ao Haiti. E acontece um dos fatos mais impressionantes da história nos últimos 200/300 anos. No momento da guerra, quando as tropas francesas estão de um lado e as tropas haitianas do outro, os franceses comecam a ouvir, cantado do outro lado, a Marselhesa – o hino francês, hino da revolução francessa. Isso arrebentou moralmente com as tropas francesas, eles perderam a guerra. Começaram a se perguntar ‘Afinal de contas, contra quem estamos lutando? Nós estamos lutando contra nós mesmo, contra nossos ideiais que agora se voltam contra nós. Por que na boca desses ex-escravos esses ideais sao mais verdadeiros do que na nossa própria boca.’

Essa é a força impressionante das ideias, elas explodem contextos, explodem espaços, constrõem novos espaços, rearticulam uma relação radical, fundamental de igualdade. Por que é interessante lembrar disso agora? Por que de uma certa maneira é o que vocês estão fazendo aqui. Vocês estão conseguindo fazer com que uma ideia, que apareceu inicalmente em um determindado lugar, no mundo árabe, na Tunísia, começe a circular de uma maneira tal que ela vai mobilizando populações absolutamente dispersas e diferentes em torno de uma nocão central, nossa democracia não existe ainda, nossa democracia ainda não chegou, nós ainda esperarmos uma democracia por vir. O que nós temos pode não ser uma ditadura, não ser o sistema totalitário, mas ainda não é uma democracia. E nenhum de nós queremos viver nesse limbo, nesse purgatório entre um regime de absoluto autoritarismo e uma democracia que nós esperamos. Não queremos uma democracia em processo contínuo, incessante de degradação, que já nasce velha. Por isso quando as colocações das manifestações dos quais vocês fazem parte insistem na ideia de que ainda falta muito para alcançarmos a democracia real, vocês colocam uma questão que até então não podia ter direito de cidadania. Se você criticasse a democracia parlamentar, tal como ela funciona hoje, olhariam vocês como arautos do totalitarismo. Se vocês não querem isso, vocês querem o que? Vocês não querem o Estado Democrático de Direito? Vocês não querem a segurança do Direito Democrático? Então vocês querem o que? E essa é a questão interessante, vocês recolocam a questão dizendo ‘Onde vocês estao vendo Estado Democrático de Direito? Eu não encontrei! Como assim, o que isso significa?’.

Se tem uma coisa que a democracia nos demanda, nos exige, é só se fala de democracia no futuro, só se fala de democracia como democracia por vir. Quando você acredita que a democacia já está realizada no nosso ordenamento jurídico, já está realizada no nosso Estado, na situação social presente, então todas as imperfeições do presente ganham o peso da eternidade, todas as imperfeições do presente parecem eternas, parecem ser impossível superá-las, parece ser mais que isso, ser criminoso superá-las, parece se colocar em risco quando você tenta superá-las, discutí-las. Então nesse sentido, a primeira coisa interessante em toda essa discussão, vocês estão dispostos a, no fundo, discutir. Não discutir no sentido de fazer alguns acertos pontuais a respeito de algumas questões que girem em torno de nossa política, por exemplo, existe corrupção, vamos nos mobilizar aqui para pedir que fulano, cicrano e beltrano vão para cadeia! Como se independente disso ser feito ou não, como se isso resolvesse o problema de nossa democracia, como se ações pontuais que não tocam problemas estruturais de processos de decisão de partilha de poder, de participação popular, de densidade popular nas decisões do governo, como se não tocando nesse problema nós conseguíssemos avançar de uma maneira ou de outra. Essa, me parece, é uma questão extremamente interessante, por que quando vocês colocam “nós queremos discussão”, isso toca uma questão extremamente clássica, que é a relação entre teoria e práxis. Por exemplo, vejam que coisa interessante, quem passa por aqui não vê nenhuma palavra de ordem, nenhuma proposta no sentido forte do termo, ‘nós queremos isso, isso e isso!’. A princípio isso pode parecer um problema, mas eu diria não, isso é uma grande virtude, por que – se vc me permitirem gostaria de fazer um pequeno parênteses na história da filosofia, lembrando de uma resposta de um grande filósofo do século XX, politicamente equivocado, mas nem por isso deixou de ser um grande filósofo, Martin Heiddeger em um pequeno texto chamado “Cartas ao Humanismo”. Em um dado momento, um sujeito perguntava a Heiddeger, ‘Afinal de contas, como o senhor entende a relação entre teoria e práxis?’. Ele responde o seguinte, ‘Eu nunca entendi a dicotomia, a diferença entre teoria e práxis. Por que o pensamento quando pensa de verdade, ele age. Na verdade, a ação mais forte é ação do pensamento por que o pensamento quando pensa de verdade, e vejam, pensar de verdade significa pensar na sua radicalidade, pesar na sua força crítica, utilizar a força crítica e a força radical do pensamento. Quando ele pensa de verdade, ele questiona os problemas, os pressupostos, as respostas.’ A história é muito interessante, por que a resposta é uma resposta muito inteligente, a resposta era, a verdadeira ação é feita pelo pensamento, não é verdade essa ideia de que muitas vezes nós pensamos por que não queremos agir, na verdade, muitas vezes nós agimos por que não queremos pensar. Muitas vezes nós procuramos um tipo de ação imediata, rápida, por que não queremos nos confrontar com o verdadeiro trabalho. (…) que é o problema, construir o que é a solução, construir o espaço que nós temos pra conseguir pensar hipóteses e pensar aquilo que pode ser mudado e o que não pode ser mudado. Ou seja, colocar a força crítica do pensamento em ação, quando a força crítica do pensamento começa a agir, então todas as respostas começam a ser possíveis, alternativas novas começam a aparecer na mesa, possibilidades começam a ser repensadas. Isso significa a verdadeira discussão de manifestações como essa, só manifestações como essas são capazes de fazer (…)

Nesses momentos é como se o espectro das possibilidades aumentassem. Aumentam por que? Por que vocês estão dispostos a pensar, estão dispostos a recolocar novos esquemas de pensamento em circulação e essa e a questão fundamental. Nesse sentido, quando isso ocorre, novas ações e novas propostas sempre aparecem. Para que novas propostas apareçam é necessário que saibamos, afinal de contas, quais são os verdadeiros problemas, quais são os problemas reais e concretos, por que sentimento de desconforto, de insatisfação, angústia em relação ao presente, vocês estao descobrindo que o mundo inteiro tem. Mesmo nessas sociedades aparentemente tribais que todo mundo gostava de desqualificar como sociedades árabes, estamos descobrindo uma coisa que nos une a eles. Nós também somos insatisfeitos, descontentes, não queremos reproduzir o presente tal como ele aparece agora, também temos a angústia da necessidade de mudança, de ruptura, isso nos faz a mesma ideia, isso nos faz presentes diante e dentro da mesma ideia. Isso que vocês tem, e devem saber guardar por toda vida por que esse é o motor da crítica, é o profundo sentimento de mal estar e de desconforto que todos vocês sentem e é por isso que estão aqui. É o sentimento mais verdadeiro que vocês tem, e o sentimento mais capaz de colocar vocês em ação. No entanto, vivemos uma sociedade onde o desconforto e o mal estar são vistos imediatamente como índice, como sintoma de uma doença, doença que deve ser tratada o mais rápido possível nem que precisássemos dopar vocês com antidepressivos ou qualquer coisa dessa natureza. No entanto, é isso que vocês tem de mais concreto, de mais real, pois esse é o índice de que há algo errado. Não com vocês enquanto indíviduo, não com o corpo de vocês, há algo errado com a vida social da qual vocês fazem parte e esse problema da vida social da qual vocês fazem parte, se manifesta dessa forma, em cada uma das individualidades que compõe cada uma dessas pessoas que estão aqui. Nesse sentido, é muito importante vocês serem capazes de se mobilizarem pra dizer que esse desconforto que sinto nao é um problema meu, é um problema da sociedade, problema da da vida social, essa maneira como a impossibilidade estrutural da vida social constituir uma vida bem sucedida se coloca para cada um de vocês.

Terminaria lembrando o seguinte, hoje, eu nem acredito, estou chegando aos 40 anos. Lembro que na idade de vocês, 18,19, 20 anos, nós ouvíamso a seguinte questão, não há mais luta a ser feita, o mundo está globalizado, agora o que vale é a eficácia, o que vale e a capacidade que você tem de que essa forma da proximidade, assumir risco, de ser criativo, de assumir a inovação, de preferência em uma agência de publicidade ou departamento de marketing de uma grande empresa. Mas essa capacidade que vocês tem – o que eu ouvia ha 20 anos atrás – levariam vocês a um futuro radiante onde só tem vencedores, onde os perderdores ficam pra trás, por que os perdedores tem também um problema moral que não tem a coragem de assumir o risco, ou teriam a coragem de assumir a necessidade de inovação e blá blá… Todos esses caras, foram exatamente esses caras que quebraram o mundo, esses que tinham 20 e agora 40 e que foram todos trabalhar no sistema financeiro e conseguiram arrebentar completamente com uma crise maior que a de 1929 e que ninguém sabe sair. Mas por que, não era só o problema (…) simplesmente na seguinte questão, eram pessoaas que não acreditavam que o futuro podia ser diferente do presente, que em hipótese alguma acreditavam na capacidade de transformação da participação popular, acreditavam que isso era ideologia velha, envelhecida, no limite do rídiculo. Como assim, participação popular? Isso não existe mais! Manifestações, isso não existe!. Vocês não existiriam aqui, não teriam nenhuma razão de estar aqui presente. Por que a história ja tinha acabado, não tinha muto mais o que fazer, então é muito engraçado do que são essas pessoas, que vêem essas manifestações como a que vocês estão organizando, falam ‘Afinal de contas, o que eles querem?’ E quando vocês falam o que vocês querem eles falam assim ‘Vocês estão loucos! O que é isso!’. Isso me lembra uma amiga psicanalista, onde no consultório dela umas mulheres que era massacradas pelos maridos. Quando elas ficavam insatisifeitas os maridos perguntavam ‘Vocês querem o que?’ e elas não sabiam e quando falavam o que queriam os maridos chegavam e arrebentavam e é isso que está acontecendo agora. Trata-se de desqualificar, não a pretensa incapacidade de manifestações como essa teriam de conseguir colocar pautas em ação, mas trata de desqualificar o tempo que essas manifestações exigem para que o pensamento possa começar a operar da maneira como ele é realmente capaz de fazer. Por que percebam bem, se pensarem muito bem, as manifestações que ocorreram esse ano trouxeram pautas extremamente precisas. Vejam, Santiago do Chile parou 400 mil pessoas na rua para pedir educação pública de qualidade, para todos e gratuita – por que só o Chile tem essa capacidade de conseguir ter educação pública que não é gratuita. Entao veja, o que é interessante numa proposta como essa, proposta que parece ser muito regional. Um problema da educação pública, mas no fundo modifica radicalmente a estrutura econômica do país, por que para garantir a educação pública o Estado tem que ter mais dinheiro. E comohttp://www.youtube.com/watch?v=oOtzmG9dxKs o Estado faz isso? Taxando mais, você vai ter que pegar mais imposto. De quem? De vocês que não tem mais dinheiro ou dos ricos que não pagam imposto em lugar nenhum da America Latina? Ou seja, você paga 27%, eu 27% e o banqueiro 27% do imposto de renda. Não existe nenhum lugar no mundo onde isso aconteça. Ou seja, significa uma radical redistribuição de renda através do uso democraáico do Estado como aparelho de constituição de uso conjunto de serviços públicos que consigam melhorar a vida do cidadão. Ou seja, vocês tem uma proposta extremamente precisa. Vejam por exemplo as propostas dos indignados na Espanha, ‘Nossa democacia parlamentar faliu junto com o sistema econômico que ela sustentava’. Por que se a crise econômica ficou desse tamanho? Que maldito sistema político é esse que permite uma crise desse tamanho? Que não consegue enquadrar a ala mais terrorista do sistema financeiro? A ala mais canalha do sistema financeiro continua tendo lucros exorbitantes! Façam esse exercício, vá na internet e peguem os balanços dos bancos que estavam quebrados há três anos atrás. Nesse ano, todos estão extremamente superavitários. De onde vem esse dinheiro? Vem do Estado que pagou! Que tipo de sistema político é esse que é incapaz de colocar contra parede quem destrói a vida, a propriedade, que destrói toda a inflação. Fala-se em defesa da propriedade privada, esse bancos conseguiram destruir toda priedade privada de um número maior do que Lênin tinha tentado fazer em 1917. Alguem devia ter colocado esse pesosal para trabalhar pra gente!

Vejam bem, as pautas são extremamente precisas e conscientes, de uma clareza e visão cirúrgica. Então é mais uma demonstração de quando o pensamento começa a agir, as pautas reais aparecem. É isso que deve acontecer, o que deve acontecer, entre nós no Brasil, nossa situação vai ser uma repetição de um processo que vai acertando a nossas costas, um tempo novo que está se abrindo. Daqui a 5 anos vão se perguntar ‘Como que nós acreditávamos durante tanto tempo que nenhum acontecimento real pudesse acontecer?’, Daqui a 5 anos o nível de descontamento vai ser tamanho, a insatisfação vai ser tamanha que vão se perguntar como que se acreditou durante tanto tempo que a roda da história estava parada, que não havia muito mais a se esperar, a não ser uma espécie de erro geral da nação a partir dos princípios postos pelo liberalismos econômico. Vocês são o primeiro passo de um grande movimento, uma grande corrida que só começou agora. Aqui tem 100 pessoas, daqui a 3,4 anos isso aqui vai estar com 3 mil, 5 mmil pessoas falando a mesma coisa. Esses processos são lentos, tudo por uma razão, como diz Freud, ‘A razão pode falar baixo, mas não se cala’. Processos como esses são lentos, eles nunca param. Agora vocês perceberam uma coisa fundamental, não dá mais pra confiar em partidos, sindicatos, estruturas governamentais que podem ter suas funções em certos momentos, mas não tem nenhuma capacidade de ressoar as verdadeiras necessidades de rupturas, perderam completamente a capacidade de fazer ressoar as verdadeiras necessidades de ruptura. Veja por exemplo o caso da Grécia, qual partido governa a Grécia? Partido Social Democrata, à princípio de esquerda. Qual partido governa a Espanha? Um Partido Social Democrata, dito de esquerda. Com uma esquerda desse tipo, nínguem precisa de direita. Tá ótimo, por que todo mundo joga no mesmo time. A única diferença é que um faz com dor no coração, ‘olha vou ter que arrebentar seu salário, não gostaria disso!’. Enquanto o outro faz cantando, ‘você era um funcionário público inútil’ e por ai vai. Fora isso a diferença é mínima, é retórica, isso significa simplesmente o que? A época onde nos mobilizávamos tendo em vista a estrutura partidária, acabou, acabou radicalmente. Pode ser que a gente ainda não saiba o que vai aparecer, a gente sabe o que não vai acontecer, a gente pode não saber exatamente como as coisas vão se dar daqui pra frente, como vai se dar esse tipo de organização mais flexível, mais aberta, democrática, e também muito mais difícil de ser gerida. A gente não sabe o que vai acontecer daqui pra frente, a gente sabe onde o aconteimento não ocorre. Com certeza não ocorre nas dinâmicas partidárias. Você tem uma força de pressão, enquanto esta força do jogo, por que quando ela entra, ela diminui, então, conservem esse espaço!

7 comments on “Transcrição da aula pública do Vladmir Safatle

  1. Junior disse:

    Em relação a data amigos ! esta certa ou estou louco?

  2. Alan disse:

    Junior, a data está certa.

  3. dani sevillano disse:

    Vosotros sois unas piezas de un engranaje, que ha sido montado de una manera completamente inesperada, completamente imprevisible, en varios espacios. Existen ciertos momentos en la historia, donde un acontecimiento, aparentemente localizado, regional, tiene la fuerza de movilizar una serie de otros procesos en varias partes del mundo. Las ideas, cuando comienzan a circular ellas desconocen espacio, no conocen ocupaciones de espacio, construyen un nuevo espacio, de una cierta manera ustedes son una pieza de una ideas que poco a poco va construyendo nuevos espacios, a través, de esas movilizaciones mundiales en varias ciudades, Nueva York,Cairo, Túnez, Madrid, Roma, Santiago, ahora en Sao Paulo; yo daría un ejemplo interesante de cómo una idea puede ignorar su espacio original.
    Existe un fato histórico impresionante, que nos toca de manera próxima, en cuanto dice como Brasil estaba envuelto, que es la revolución en Haití en 1804, la primera hecha por esclavos, esclavos que se libertaron del dominio francés; acontece un hecho interno impresionante en 1793 , en la asamblea nacional francesa, gracias a los jacobinos, se decide abolir la esclavitud en las colonias; era el resultado del principio de la igualdad radical, si nosotros defendemos la igualdad radical no es posible que la igualdad valga en este país y no valga en otro lugar, si no vale en este país, no vale en ningún lugar, ella es incondicional, debe desconocer espacio, desconocer tiempo,entonces ella vale también para las colonias.
    Cuando Napoleón asume el poder intenta reverte ese decreto, quiere que la esclavitud de vuelta. Los haitianos se sublevan, Napoleón manda tropas para Haití, y acontece uno de los hechos más impresionantes de la historia en los últimos 200/300 años, en el momento de la guerra, cuando las tropas francesas estaban de un lado, haitianas de otro lado, y los franceses comienzan a oír, cantado desde el otro lado, la marsellesa, el himno de la revolución francesa. Eso reventó moralmente las tropas francesas, perdieron la guerra, pasaron a preguntarse: A fin de cuentas, ¿Contra quién estamos luchando? Estamos luchando contra nosotros, contra nuestros ideales, que ahora se vuelven contra nosotros, porque en la boca de los esclavos esos ideales son más verdaderos que en nuestra boca. Esa es La fuerza impresionante de las ideas, ellas explotan espacio, ellas construyen un nuevo espacio, ellas re-articulan una relación radical fundamental de igualdad
    Es interesante recordar eso ahora, es de cierta manera lo que vosotros estáis haciendo, vosotros estáis haciendo que una idea que apareció en un determinado lugar, el mundo árabe, en Túnez, comience a circular de una manera tal que la van utilizando populaciones absolutamente dispersas, diferentes, mas en torno a una noción central, que es: Nuestra democracia no existe todavía, nuestra democracia todavía no ha llegado, aún esperamos una democracia por venir, lo que nosotros tenemos puede no ser una dictadura, puede no ser un sistema totalitario, pero todavía no es una democracia, ninguno de nosotros queremos vivir en ese limbo, en ese purgatorio, que es el régimen absoluto autoritario y una democracia que nosotros esperamos, no queremos procesos que degradan, ya nace vieja, por eso cuando las manifestaciones de las que hacéis parte insisten en la idea falta aún mucho para alcanzar la democracia real, colocan una cuestión, que hasta entonces no podía tener derecho de ciudadanía, si creyesen en la democracia parlamentar tal como funciona hoy, os mirarían como unos totalitarismo
    Ustedes no quieren esto ¿Qué es lo que quieren? , ¿No quieren un estado democrático Derecho democrático? Y esa es la cuestión interesante,vosotros recolocáis la cuestión diciendo: ?Dónde están viendo el Estado democrático de Derecho? Yo no lo he encontrado.
    Si hay una cosa que la democracia nos exige, nos demanda, es que sólo se habla de democracia en el futuro, de democracia por venir,porque cuando se cree, ya está realizada uestra democracia,ya está realizada nuestro ordenamiento jurídico, nuestro estado, nuestra situación social presente , entonces todas las imperfecciones del presente ganan el peso de la eternidad, todas las imperfecciones del presente parecen eternas, imposible de superarlas, parece ser discriminatorio superarlas cuando intenta superarla e intenta poner en riesgo el querer superarlas, discutirlas. En ese sentido, la primera cosa interesante, es que vosotros estáis dispuestos a discutir a fondo , no en el sentido de arreglar unas asuntos puntuales al respecto de unas cuestiones que giran en torno de nuestra política, corrupción , por ejemplo, “ eh, vamos a movilizarnos aquí, para que fulano y mengano vayan a la cárcel, como si, independiente de ser hecho o no, eso resolviese el problema de nuestra democracia, como si acciones puntuales que no tocan problemas estructurales de procesos de decisión de partición del poder, de participación popular de densidad popular en las decisiones como si no tocando esos problemas, consiguiésemos avanzar de una manera u otra.Esa parece una cuestión extremamente interesante porque cuando colocáis “queremos discusión “, eso toca una cuestión clásica: la relación entre teoría y praxis. Por ejemplo, vean algo interesante, quien pasa por aquí no ve ni una palabra de orden, ninguna propuesta en sentido expreso de que nosotros queremos esto, y esto, y esto; puede parecer un problema pero yo diría: no, que eso es una gran virtud porque, si me permiten me gustaría hacer un pequeño paréntesis en la historia de la filosofía, recordando una respuesta de un gran filosofo del siglo XX, políticamente equivocado, auque no deje de ser un gran filosofo, Heidegger,en un pequeño texto llamado “Cartas al Humanismo”;en un determinado momento un sujeto
    le pregunta cómo entiende la relación entre teoría y praxis y él responde: “Nunca entendí la dicotomía, la diferencia, entre teoría y praxis, porque el pensamiento cuando piensa de verdad , él actúa”; es la acción más fuerte, es la acción del pensamiento porque cuando el pensamiento de verdad, pensar de verdad significa, pensar en su radicalidad, pensar en su fuerza crítica, la fuerza crítica y radical del pensamiento, cuando piensa de verdad cuestiona los problemas, cuestiona los presupuestos, cuestiona las respuestas, en ese momento es como si el espectro de las posibilidades aumentase, porque estáis dispuestos a pensar, estáis dispuestos a recolocar nuevos esquemas de pensamiento en circulación, y esa es la cuestión fundamental y en ese sentido cuando eso ocurre nuevas acciones y nuevas propuestas aparecen, para que nuevas propuestas aparezcan es necesario saber cuáles son nuestros problemas, cuáles son los problemas reales concretos por qué sentimiento de incomodidad, sentimiento de insatisfacción, angustia en relación al presente, estáis descubriendo que el mundo entero también la tiene. Incluso esas sociedades, esas sociedades tribales, como todo el mundo quería descalificar como las sociedades árabes, tenemos algo nos une a ellos,también estamos descontentos , no queremos reproducir un presente tal como se aparece ahora, tenemos angustia de la necesidad de cambio, y eso nos hace la misma idea, nos hace presente dentro y delante de la misma, idea que tenéis, que debéis saber guardar, pues ese es el motor de la crítica, es un profundo sentimiento de malestar, que todos sienten, el sentimiento mas verdadero que tienen, el sentimiento más capaz de colocaros en acción, mas no mientras vivimos en una sociedad donde la incomodidad, malestar, es visto como síntoma de una enfermedad, que debe ser tratada lo más rápido posible, como quien piensa si vamos a drogar a todo el mundo con antidepresivo, no obstante la masrea
    Hay algo mal, pero no con vosotros, no por vosotros, hay algo errado con la vida social de la cual hacéis parte, y ese problema de la vida social de la cual hacen partes se manifiesta de esa forma cada una de las que componen, en ese sentido, Es muy importante que sean capaces de movilizar para decir ese malestar no es un problema mío, es de la sociedad, es de la vida social, es la manera como la posibilidad estructural de la vida social exitosa se coloca para cada uno de vosotros
    Vean, terminaría recordando lo siguiente, hoy ni yo mismo acredito, estoy llegando a los cuarenta años, Recuerdo cuando tenía vuestra edad, 20 ,oíamos la siguiente cuestión : no hay más lucha a ser hecha , todo está globalizado ahora lo que vale es la capacidad que tienes de asumir eso, De ser creativo una agencia de publicidad o un departamento de una gran prensa, mas esa capacidad que tienen llevarían , vamos a llevarla a un futuro radiante, con solo vencedores, donde los perdedores se quedan atrás, los perdedores morales porque no tienen valor de asumir eso, Sin valor de asumir la necesidad de innovación.
    Todos Esos tipos son los que arruinaron el mundo, esos caras que entonces tenían veinte y ahora tienen cuarenta, que fueron a trabajar al sistema financiero consiguieron explotar una crisis mayor que la del 29, de la cual nadie saber cómo salir, e porque no era solo un problema
    Eran personas que No creían en el futuro porque no presente, de forma alguna creían En la capacidad de transformación de la participación popular Creían que eso era Ideología, ideología vieja eso no existe más, participación popular? Eso no existe ¿Manifestaciones? Eso no existe. Para esas personas vosotros no existiríais, no había razón para estar aquí, no hay mucho más que hacer. Es gracioso, que esas personas cuando ven manifestaciones como esta, dicen, a final de cuentas, ¿Qué es lo que ellos quieren? Cuando decís lo que queréis esta es su respuestas: ¡Pero ustedes están locos!, de eso ni hablar.
    Esto me recuerda a una amiga psicóloga que me contaba cuando en su consultorio aparecían unas mujeres masacradas por sus maridos pero cuando estaban satisfechas, el marido llegaba y le preguntaba: Y ahora ¿Qué es lo que quieres?. Cuando ella decía lo que quería: Sí, yo quería eso, lo otro. El marido la recriminaba. Es eso lo que está pasando ahora, se trata de desacreditar un capacidad que consuge colocar pautas , tratan de descalificar el tiempo el pensamiento comienza a alterar
    Dentro
    Si ustedes piensan extremamente, pautas extremamente precisas Santiago de Chile paró 400000 personas en la calle para pedir salud pública para todos, de calidad, para todos, y gratuita, educación pública
    Vean, una propuesta como esa que parece regional, el problema de la educación pública, más en el fondo modifica la del país radicalmente la estructura del país, porque para garantizar el estado tiene que tener más dinero Pero más impuestos de quien, que vosotros que no tenéis dinero o de los ricos que no pagan impuestos en ningún lugar deAmérica Latina? O sea, tú pagas 27%, yo 27%, y el banquero 27% de impuesto de la renta. Eso no existe en ningún lugar del mundo
    Significa un radical redistribución de renta a través del uso democrático del estado como aparato de constitución de uso conjunto de servicios públicos que consiga mejorar la vida de los ciudadanos
    Vean las propuestas que aparecieron con los indignados de España, nuestra democracia parlamentaria falló, junto con el sistema económico que ella sustentaba
    La crisis llegó a a ese tamaño la pregunta a hacerse es ?Por qué la crisis ha llegado a ser de este tamaño? ?Qué sistema económico es ese que permite que la crisis alcance ese tamaño?¿Qué maldito sistema político es ese? Que no consigue encuadrar la ala más terrorista del sistema financiero, la ala más canalla continua teniendo beneficios desorbitantes!
    Van a internet , cojan los balances del bancos queestaban en bancarrota hace tres años. Hoy tienen inmensos superavits.
    ¿De dónde viene ese dinero? Viene del Estado que lo pagó.
    ¿Qué sistema político que es incapaz de poner contra la pared quien destruye la vida,la propiedad, que destruye toda la población. Vean
    En defensa de la propiedad privada esos bancos consiguieron destruir la propiedad privada de un número mayor que ni Lenin había intentado hacer en 1917. Alguien debería haber colocado esa gente a trabajar para nosotros!
    Las pautas son precisas, conscientes son de una clareza y una visión cirúrgica. Es más una manifestación de cuando el pensamiento comienza a actuar, las pautas reales aparecen
    Es eso lo que debe pasar, lo que debe pasarnos a todos aquí en Brasil, nuestra situación va a ser una repetición de un proceso que va emergiendo a nuestras espaldas, un tiempo nuevo que se está abriendo.
    Dentro de cinco años se preguntarán: cómo créimos durante tanto tiempo que ningún acontecimiento real pudiera ocurrir? Dentro de cinco años el nivel de indignación será tal, la insatisafacción será tal que se preguntarán cómo que se creyó durante tanto tiempo que la rueda del historia estaba parada, que no había mucho más que esperar, a no ser una especie de error general de la nación a partir de unos principios
    puestos por el liberalismo económico.
    Vosotros sóis el primer paso de un gran movimiento un larga Carrera que solo ha comenzado. Aquí hay 100 personas dentro de tres, cuatro años aquí habrá tres mil personas. Esos proceso son lentos, como dice
    Freud “La razón puede hablar bajo pero nunca se calla” Proceso como estos son lentos pero nunca paran.
    Se han dado cuenta de una cosa fundamental, se han dado cuenta de que no es más posible confiar en partidos, sindicatos
    Estructura gubernamentales que pueden tener su función en ciertos momentos, pero no tienen capacidad de resonar las verdaderas necesidades de ruptura. Perdieron la capacidad de hacer resonar las necesidades de ruptura
    Vemos el caso de Grecia ¿Cuál es el partido que gobierna en Grecia? El partido social demócrata, en principio de izquierdas
    ¿Cuál es el partido que gobierna en España? El partido socialista obrero español, en principio de Izquierda. Con unas izquierdas de ese tipo nadie necesita derechas.Es estupendo porque todos juegan en el mismo equipo. La única diferencia es que uno lo hace con pena en el corazón.”Disculpa acabar con tu salario, No me gustaría hacer eso, pero qué puedo hacer…” El otro lo hace cantando, “Eso es así. Usted era un funcionario inútil”. Aparte de eso,la diferencia es mínima,
    es retórica, Qué significa eso? La época donde nos movilizabamos teniendo en cuenta la estructura partidaria acabó. Acabó radicalmente. Puede ser que todavía no sepamos que va a aparecer sabemos lo que no va a acontecer, no sabemos como las cosas serán en adelante, como será ese tipo de organización mucho más flexible, abierta, mucho más democrática y también mucho más difícil de ser gerida. No sabemos lo que va a pasar en adelante,sabemos dónde el acontecimiento no ocurre. Poseéis una gran fuerza de presión, que es grande porque esta fuera del juego, porque cuando ella entra en él, disminuye, por eso, coservad este espacio.
    Quería dejaros una última colocación,´todos vosotros, era más fácil si estuvieséis en casa trabajando cada uno en su sitio, pensando en la carrera, pensando en vuestros problemas, vuestras preocupaciones, pero estáis aquí, en el medio do vale do Anhangabau, en la ciudad más fea del planeta, discutiendo la capacidad que tenemos a partir del momento que se empieza discutir

    Que interesante que varias persona piensen “está loco, debería estar allí, en vez de hacer algo más productiva están aquí…” Los verdaderos momentos de la historia fueron producidos por personas locas
    si no fueran ellas, no habría ruptura, no habría ningún tipo de reconstrucción posible, la gran locura es solo luchar, vosotros estáis de enhorabuena

  4. UPHOPSHOODY disse:

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